“Anápolis tem pressa”, repetia e ainda repete o prefeito Márcio Corrêa (PL) desde o início da caminhada que o levou à cadeira de líder do Executivo. Como um mantra, o empresário reuniu uma série de frases curtas, com mensagens diretas à compreensão da população que davam dinamismo, celeridade e insinuavam grande capacidade de transformação.
Mas, passados os simbólicos 100 dias de administração sob a sua tutela, a cidade ainda não reconheceu ter a “capacidade de entrega” prometida por Corrêa, isto para citar outro termo usado por ele.
Da chegada ruidosa, com direito a ações espetaculosas como a de levar um distrato contratual, usando viaturas policiais e do Corpo de Bombeiros, até a UPA da Vila Esperança, o que se percebe agora é a renovação de promessas, a criação de outros compromissos para o futuro, mas com muito pouco saindo do papel.
SAÚDE
A primeira ação de impacto positivo na gestão aconteceu logo no primeiro dia, com a decisão de transformar o Hospital Alfredo Abrahão em uma unidade de “portas abertas”. Esta era uma reivindicação dos usuários do sistema municipal de Saúde e, também, dos vereadores há anos.

Também dentro da Saúde, e atendendo a um compromisso de campanha, Corrêa e Vosgrau deram início à retomada das cirurgias eletivas e, em especial, as cardíacas. Numa parceria com o Governo Federal, através do Senador Jorge Kajuru (PSB), voltaram a acontecer as cirurgias de catarata.

Mas, por outro lado, os primeiros 100 dias da gestão Corrêa foram marcadas na Saúde pelo fechamento de dois hospitais que já funcionavam. Apesar do discurso político contra o ex-prefeito Roberto Naves (Republicanos) de que as unidades abriram em caráter improvisado e irregular, a UPA da Mulher, por exemplo, chegou a fazer 1500 atendimentos em menos de um mês.
Além disto, nesta centena de dias a equipe da Saúde de Márcio Corrêa não conseguiu por as duas unidades para funcionar dentro das adequações que, segundo o gestor, faltavam. Com isto, a cidade começou 2025 com dois grandes centros de atendimento a menos.
INFRA
Como de praxe, a chegada do novo prefeito também paralisou todas as obras em andamento para que passassem por vistorias, auditorias e demais verificações. Destas, somente uma até agora teve o anúncio de sua retomada: a trincheira do Recanto do Sol.
De uma obra contesta desde o projeto até a execução, passou a ser uma execução viável, conforme anunciado pelo próprio prefeito. Segundo ele, em vídeo compartilhado nas redes sociais, “após uma conversa com a empresa” ficou comprovado de que tudo estava dentro dos conformes.
Está na Região Norte um marco das ações atabalhoadas, com muita vontade e pouca estratégia, deste início de gestão. A abertura de um trecho de um canteiro às margens da BR-414 para “escoar” o fluxo sentido bairro-centro gerou atrito com a Ecovias do Araguaia, foi embargada e só retomou para a conclusão após entendimento político com a ANTT e a própria concessionaria.
Apesar da tentativa de vender a ideia de uma solução, como era esperado, o puxadinho não funcionou e só é aberto pela CMTT com a presença de fiscais de trânsito. O problema do congestionamento, é claro, continua o mesmo.

DESGASTES
O início da gestão municipal ficou também marcado por trapalhadas vistas como “evitáveis” que resultaram em desgastes à imagem de gestor moderno, ágil e experiente na iniciativa privada, como o prefeito tentou emplacar.
A nomeação da esposa do vice-prefeito para um cargo de assessoria ao próprio marido pegou mal, virou manchete nacional, e fez Corrêa promover seu primeiro recuo, admitindo em nota ter sido um ato “inadequado”.
Além disto, dois problemas na Saúde pegaram mal: o atraso na resolução do repasse financeiro à maternidade Doutor Adalberto e a queda-de-braço com a Santa Casa também por repasses mensais.
Este segundo caso chegou a demandar a intervenção do Ministério Público que recomendou ao prefeito a manutenção do pagamento do extra para a Fundação Assistencial Santa Casa (FASA) sob pena de problemas maiores.
Por fim, a promessa feita aos ex-trabalhadores de Saúde da UPA da Vila Esperança de arcar com seus direitos trabalhistas é um desgaste que a gestão ainda não conseguiu resolver e rendeu a Corrêa sua primeira manifestação popular na Câmara Municipal, com direito a cartazes e gritaria.

EM ABERTO
Como não parou de prometer novas ações e inovações, Marcio Corrêa atribuiu a si novos desafios e compromissos dentro destes 100 dias. Entre eles estão:

- interdição imediata do antigo Centro Administrativo para reforma (nada aconteceu)
- abertura de 2,5 mil novas vagas de creches (a Secretaria de Educação jamais conseguiu divulgar onde estariam estas novas vagas)
- transformação do edifício-garagem da Prefeitura em sede de secretarias que funcionam em prédios alugados (nunca mais se foi falado sobre o assunto)
- revitalização do centro (o assunto está em debate, mas até agora o único evento real foi a criação de uma crise com os ambulantes pela notificação de que seriam removidos das calçadas).
- no famigerado “vídeo do posto”, Márcio Corrêa prometeu às família dos mais de 30 mil estudantes o fornecimento de todo material escolar, inclusive de uso pessoal (não aconteceu, o assunto não voltou a ser comentado e as escolas continuaram pedindo doações para os pais)

RESUMO
Quase 20% destes 100 dias, Márcio Corrêa enfrentou problemas de Saúde que lhe renderam internações em UTIs em Anápolis e no Distrito Federal. O quadro de saúde do gestor acabou por lhe tirar o ritmo de ações efetivas. Se os vídeos gravados nas ruas da cidade continuaram de forma acelerada, as ações internas de impacto efetivo para a gestão ficaram comprometidas.
Há, também, a expectativa de que este período tenha servido para que Márcio Corrêa conhecesse mais da gestão em toda a sua complexidade. Se não há ainda a apresentação de um projeto amplo que mostra o conceito de onde o prefeito quer chegar com a cidade em quatro anos, o período pode ter ofertado a seu favor a chance de pensar num conjunto de ações que, no futuro, mostrem a sua cara e deem uma ideia de legado de sua passagem na Prefeitura de Anápolis.