O Anápolis Diário teve acesso exclusivo ao inquérito policial 2506313221, do Grupo Especial de Investigações Criminais (GEIC) de Anápolis. Em um exercício de Cidadania, através da prática do Jornalismo Investigativo, e visando o acesso à informação de forma universal, publica a seguir o que os três delegados à frente do caso identificaram. Ao todo, o AD fará quatro publicações de tudo o que foi registrado nos documentos.
Enviada à 5ª Vara Criminal de Anápolis, a investigação aponta que o prefeito de Anápolis, Márcio Corrêa (PL) não somente sabia da participação de seu secretário de Comunicação nas postagens do perfil, como participava de um grupo em que comandava a divulgação das ações difamatória.
A conclusão da Polícia Civil aconteceu após a análise científica do aparelho celular do agora ex-secretário de Comunicação Luís Gustavo Rocha em que, segundo os investigadores, foram identificados “indícios de participação e envolvimento do investigado Márcio Aurélio Corrêa, atualmente exercendo o cargo de prefeito de Anápolis”. Confira a íntegra do documento ao final desta reportagem exclusiva.
CAFÉ COM PIMENTA
Conforme foi extraído da perícia do celular de Luís Gustavo, Márcio Corrêa, o prefeito de Anápolis, integrava um grupo de WhatsApp denominado “Café com Pimenta”, no qual também participavam o próprio Luís Gustavo e o jornalista Denílson Boaventura, então diretor de Comunicação da Câmara Municipal e sócio do site Portal 6, também de Anápolis.
O nome do grupo é homônimo ao perfil de Instagram do ex-prefeito e atual cronista político Ernani de Paula. Apesar do nome, não há qualquer relação de ambas as atuações, sendo o nome possivelmente uma piada interna do trio formado por Márcio, Denílson e Luís.
“BORA SOLTAR ESSA”
Os delegados Luiz Carlos Cruz Filho, Marcos de Jesus Adorno Filho e Leonilson Pereira de Sousa, responsáveis pelas diligências investigativas, identificaram que no grupo há mensagens atribuídas a Márcio Corrêa em que o prefeito dá ordens de comando para postagens, direcionando os ataques.
“Bora soltar essa no Anápolis na roda 3”, diz uma delas, registrada no inquérito. “O que sugere possível instigação ou direcionamento de conteúdo publicado nos perfis investigados”, concluem os investigadores no documento que foi remetido ao Tribunal de Justiça.
A conclusão a qual chegam os delegados é que, “embora ainda em fase inicial de análise, indica possível envolvimento direto da mencionada autoridade com prerrogativa de foro por função”.
Por esta razão, os delegados indicam que, seguindo o que rege o rito constitucional, o processo deve ser remetido ao Tribunal de Justiça de Goiás a fim de obter a autorização para o prosseguimento das investigações.

CONFIANÇA CIBERNÉTICA
Os dados do grupo “Café com Pimenta” foram extraídos e analisados por um software denominado “Materializador de Evidências Digitais e Informáticas”. Desenvolvido pelo CyberGaeco, do Ministério Público do Estado de Goiás, a extração é considerada “extremamente segura”.
“Os dados são apresentados conjuntamente de seus valores de hash MD5, SHA-1 e SHA-256[7], sendo este último padrão o mais seguro existente, recomendado pelo NIST (Nacional Institute of Standards and Technology) do Governo dos Estados Unidos da América e utilizado para verificar transações de blockchain, além de assinaturas eletrônicas”, explicam os delegados no documento.
“Nunca houve nenhuma falha de segurança quanto a ele. A título de exemplificação, a possibilidade de colisão (de dois arquivos apresentarem o mesmo hash SHA-256) é de 1 em 2 elevado à 128 ou uma em 340 undecilhões (340 seguido de 36 zeros).”