Isadora Moraes só lembra que é mineira quando olha a Carteira de Identidade. Anapolina “desde antes de começar a escola”, a estudante do 8º período do curso de Medicina da UniEvangélica contou a sua trajetória ao Anápolis Diário (AD) após chamar a atenção pela intensa defesa que fez nas postagens do portal no Instagram em defesa de financiamentos públicos como a bolsa do GraduAção.
O programa municipal foi suspenso pelo prefeito Márcio Corrêa (PL), que argumentou que sua obrigação é atuar no Ensino Fundamental. Quando o vereador Divino Santa Cruz (PSD) subiu à tribuna para pedir o retorno imediato do programa, Isadora participou dos debates e comemorou a fala do parlamentar.
“Minha família jamais teria condições de pagar uma faculdade particular pra mim, então desde o 1° ano eu me dedicava a estudar para o Enem a fim de ingressar em uma faculdade pública. Só que mesmo assim, se passasse na UFG, que era a mais perto, seria difícil para eu me manter”, destaca Isadora.
“Foi quando, em 2019, surgiu o GraduAção. “Quando eu estava no 3° ano e surgiu o programa. Foi uma ponta de esperança de fazer faculdade aqui em Anápolis”, diz Isadora, que conheceu e se “apaixonou” pelo curso quando participou do evento “Dia Como Estudante de Medicina”, quando estava ainda no 1° ano do Ensino Médio. “Fiquei completamente encantada pelo curso e profissão”, frisa.
COMPENSAÇÃO SOCIAL

Filha de uma viúva, em 2020, com a Pandemia, “o que já não era fácil, se tornou ainda pior”. “Minha mãe estava sem renda porque, com tudo fechando, ela ficou sem trabalhar. Nessa época ela aprendeu fazer salgados, rosquinhas e etc para vender e isso foi fundamental para nós”, recorda.
Enquanto isto, Isadora buscou aprimoramento, “Eu fazia um cursinho online, pagando cerca de R$ 25 por mês, ainda focada no Enem, mas não consegui passar na UFG”, lamenta.
O GraduAção prevê uma compensação social pelo incentivo financeiro e Isadora não só cumpre como revela seu prazer em poder fazer algo pela comunidade.
“Além de nos mantermos dentro dos critérios de renda, precisamos realizar uma contraprestação de 200 horas semestrais para a cidade. Eu já atuei em UBS, campanhas de vacinação, testagem da COVID, vacinação dos acamados, Dia D, etc. Além disso, temos de manter uma média acadêmica alta com aproveitamento de 80%”, revela a futura médica.
A situação dela está longe de ser única. “Tenho colegas de sala que também precisam do recurso, mas também colegas de outras turmas que dependem disso para custear a faculdade. No meu caso, sem a bolsa, jamais conseguiria custear”, aponta.
SONHO INTERROMPIDO
Ela é taxativa: a descontinuação da bolsa é o fim de seu sonho. “Eu teria que trancar os estudos, pois não tenho nenhuma condição de pagar. Algumas pessoas na internet sugeriram até fazer financiamentos, mas todos os financiamentos exigem garantias como bens e imóveis, coisas que minha família também não tem, impossibilitando isso”, afirma.
“Eu espero que essa situação seja resolvida logo. Sabemos que houve essas acusações de fraude, mas não é justo que todos paguem pelo erro de alguns. Infelizmente eu não tenho absolutamente nenhuma condição de pagar a faculdade. Nossa responsabilidade era sermos honestos com nossas documentações, realizarmos a contraprestação de horas/serviços para o município e mantermos nossas médias altas. Falando por mim, eu cumpri tudo isso. Então, só espero que tudo se resolva, tanto pra nós quanto pra gestão da cidade e que ninguém honesto saia prejudicado”, conclui.
A futura médica Isadora Moraes ainda não sabe qual caminho trilhar na ampla atuação da Medicina. Ela diz que já mudou de opinião nestes quatro anos e sua mais recente inclinação é a Oftalmologia. Mas a sua preocupação mesmo é saber se poderá concluir seus estudos com a bolsa criada pela Prefeitura de Anápolis.